terça-feira, 23 de junho de 2009

De volta ao velho continente

München, Deutschland

Do Japão entrei num avião direto a Londres. Foi um trans-siberiano mas pelo ar. Pah, melhor que nada! Estava a pensar ir por terra, mas com as dificuldades que vi para conseguir os vistos chinês e russo, e o preço que custaria essa travessia por terra, achei melhor deixar para outra altura. Quando começei a planear o trans-siberiano estava na Austrália, e para tirar o visto para a Rússia a opção mais viável que tinha, era enviar o passaporte para Portugal, ser emitido lá o visto e depois receber o passaporte de novo na australia... enfim, sem comentários. E o visto chinês também estava a colocar dificuldades devido à gripe suína (esse big brother ou "triunfo dos porcos" ;) ... que anda aí mas ninguém vê.. olha a vacina para isso é mastigar gengibre todos os dias em jejum.. vão ver se não evitam a gripe e se a tiverem, a ver se nao curam! ahahahah.. conversa de velho!) por isso pensei para comigo.. "se não me querem lá, também não quero ir". Foram pois vários fatores e sinais ao meu redor que me fizeram desistir da travessia da ásia por terra:
- dificuldades em conseguir os vistos
- preços elevados que as agências ofereciam para a viagem de comboio
- vontade de chegar a Portugal a meio de Agosto, o que ficaria mais em risco com o trans-siberiano
- planeamento muito tardio do trans-siberiano

Air Trans Siberian I saw Siberia frmo the sky
Trajetória Tokyo - Londres. Vista aérea da Sibéria.

Bom e foi melhor assim. Muitas vezes uma pessoa sente que não deve fazer algo, e nem sabe bem explicar porquê, pois no momento de decidir senti que não devia ir. Poucos dias depois, em conversa com um jovem viajante austríaco ficava sabendo que com planeamento e comprando os bilhetes diratemente às empresas ferroviárias, sem agências de viagens conseguia essa viagem por um quarto do preço!

Pois bem. Depois de três alucinantes semanas, cheias de luzes de neon coloridas a piscar por todo o lado deixava o Japão. O destino final - Berlin, de volta à Europa. O preço mais barato oferecido pelo motor de pesquisa de voôs é da British Airways e iria fazer escala em Londres. Consegui uma escala de 24 horas,e como tenho amigos por lá e assim foi uma boa oportunidade de os rever. Senhor Tiago Andrade a.k.a. Bito recebeu-me em sua casa e inteirou-me do seu trabalho musical. Já fizémos festas e programas de rádios juntos como DJs, sempre fomos acompanhado os percursos artísticos um do outro já desde há quase 10 anos atrás, e foi bom ver como a sua arte musical está amadurecida. Podes ver aqui o seu trabalho www.myspace.com/tiagoandrade .

Fiquei muito pouco tempo em Londres, não posso se quer dizer que visitei a cidade, mas surpreendeu-me muito pela quantidade de espaços verdes. Uma cidade esparsa, verde, grande e organizada. Havia visitado com os meus pais há vários anos e só vendo os locais turísticos e ficando no centro não nos inteiramos de como as pessoas vivem, e desta pequena estadia de 24 horas em Londres pude ver um pouco que seja da qualidade de vida que a cidade oferece em termos de espaços verdes, infra-estruturas para bicicletas, bom transporte público.. enfim.. é o U.K. e lá as coisas são a sério e bem feitas.

London Andrade's place
Londres. Na porta da casa do Andrade.

Ao aterrar na Europa já estava de volta ao velho continente, mas o "síndrome da ilha", como lhe chamo (também presente no japão), contribui para que o quotidiano no reino unido seja diferente do português. Uma moeda diferente, condução à esquerda, tomadas elétricas diferentes, cadeias de lojas inexistentes em portugal, entre outros aspetos. Contudo, depois de voar do aeroporto de Heathrow em Londres até Berlin, aí estes elementos desvaneceram. Até estranhei quando, ao comprar um bilhete de autocarro para o centro de Berlin, recebi o troco em modeas de Euro. Moedas estas que já não via há um ano e meio. Chegado ao albergue (mega barato! 5€ por noite... mas foi preciso procurar bem e regatear um pouco..), ao ligar as tomadas de volta aos pinos europeus (exceto u.k.) fez-me de novo sentir mais perto de casa, e na verdade já não tenho grandes barreiras naturais pela frente até chegar a Portugal.

Berlin, uma cidade de história, de contrastes, esotérica, inovadora e barata. Conheci as áeras históricas, senti a diferença entre berlin de este de oeste, avistei arte nas ruas do centro da cidade, caminhei ao longo dos restos do muro de berlin, e experiencei também a frieza e má-educação dos alemães. Começa a história quando no aeroporto me dirigo ao balcão de informações para saber onde pegar o autocarro para o centro da cidade. Com uma explicação rápida, incompleta e num tom de voz e olhar arrogante me despacha o senhor das informações. Nem sequer havia gente à espera para ser atendido! Qual é a cena? Enfim, foi só uma introdução. Desde que cheguei à Alemanha já aconteceram mais episódios assim em que nos querem despachar, mal-tratar, com frieza e má-educação. Será que sou eu que estava em viagem há muito tempo por África e América latina, onde o calor humano é enorme? Talvez, mas em Portugal as coisas não são assim não. Um canto da europa com muita gentileza e capacidade de bem-receber. Os portugueses são um povo mestiçado, feito um pouco por povos do norte da europa, romanos, fenícios, mouros do norte da europa, negros sub-sarianos, judeus, ciganos, enfim, uma misturada, que hoje em dia segue, com a entrada de imigrantes das ex-colónias, do leste europeu e brasil. Creio que estes fatores fazem dos portugueses um povo que sabe receber com bastante calor, pois no fundo sabemos um pouco das nossas raízes, em algum ponto da nossa genealogia não muito distante, estrangeiras.

Berlin - Unter der Linden Berlin wall
Em Berlin - Unter der Linden e no Muro.

Em Berlin fiquei por 4 dias, até que chegou dia 20 de Junho, sábado, em que me preparava para uma nova etapa da volta ao mundo. Ir de boleia até ao sul do país - Munique, na Bavária (eles aqui dizem München, na província de Bayern). Na noite anteriro havia pesquisado no www.hitchwiki.org quais as melhores opções e que mega ajuda foi! Eram 6h30 quando acordei e rumei à estação de comboios Friedrisch Strasse, onde entrei no trem para Michendorf, localizado na ponta Sudoeste da grande berlin, a cerca de 40 minutos do centro, e local ideal para conseguir boleia para fora de Berlin. Várias auto-estradas se cruzam perto de Michendorf, e para além disso existe uma grande estação de serviço - por isso se consegue facilmente boleia. Da estação de comboios rumei até à bomba de gasolina. Cerca de 20 minutos a pé com o meu troley onde carrego agora a mochila-mãe - a grandona, para poupar um pouco mais as costas. A mochila pequena carrego às costas onde guardo também a maioria dos valores. Chego ao muro que isola a estação de serviço da pequena vila de michendorf, e entro pela saída de emergência. Entrando no mundo dos veículos a alta velocidade, avisto logo várias linhas de camiões tir e estacionamentos de carros. É dos melhores locais para conseguir boleia. Cheguei cedo, pelas 9h, quando havia ainda pouco movimento. Peguei na minha folha A4 com eltras gordas dizendo "München - A9" e mostrava a todos os carros e camiões que passavam dentro do posto. Assim foi por 2 horas, sem resultados concretos, até que decidi mudar de estratégia e abordei com o meu alemão básico os condutores dos carros estacionados na área de comida. Alguns simpáticos outros nem por isso, mas o Mundo é mesmo assim.. todos diferentes, todos iguais. Assim foi até que surgiu um jovem casal de namorados, marcados por um estilo visual esotérico. Valentin, um jovem russo músico de ska, vivendo em Berlin, acompanhado da sua namorada. Eles decidiram ajudar-me e assim nos espalhámos na área de serviço para agilizar a boleia, que estava para chegar. Cerca de 30 minutos depois havia conseguido uma boleia com um casal, para Leipzig, a próxima grande cidade alemã na auto-estrada A9, rumo à Bavária. Fui a correr ter com Valentin para tirar as minhas coisas da bagageira do carro dele, mas ao o encontrar ele diz-me que havia conseguido uma boleia um pouco mais a sul na auto-estrada. Assim foi, segui então viagem com um grupo de 3 amigos alemães de Frankfurt que estavam a voltar a casa, depois terem prestado uma entrevista para estudarem em Berlin. São também praticantes da boleia (trämpen) na alemanha e até me deram conselhos e frases para me orientar melhor.

Fiquei numa bomba de gasolina por algumas horas onde pouca gente rumava ao sul, pois a verdade é que a bomba era de dificil acesso para quem estava na auto-estrada - era necessário sair e depois voltar a entrar, e isso dificultou, até que uma caravana de checos, me levam até a uma outra bomba de gasolina, no cruzamento da A9 com a estrada que vai para Dresden e república checa também. Desta vez fiquei numa bomba ainda pior, de acesso ainda mais dificil para quem estava na auto-bhan rumo à Bavária. Pedi conselhos à dona do posto de serviço e, vendo ela vim que tinha ido parar ao sítio errado, ela pediu a um dos funcionários para me levar a uma outra estação a cerca de 5km, já na berma da auto-estrada, onde seria então muitos mais fácil de conseguir boleia. Assim foi. Cheguei, perguntei a 2 pessoas que não ofereceram boleia por terem os carros já cheios mas à terceira foi de vez, e um senhor de 50 anos, alemão, a viver em espanha, na alemanha em negócios e para visitar a família, me deu boleia até munique. Certinho, direitinho, a abrir pela A9 abaixo a 180 km hora. Aqui na Alemanha é à grande - raramente há limites de velocidades, e as auto.estradas são planas e com 3 faxas em casa sentido, para além disso a condução é também responsável. Assim frequentemente se vêm carros a 250km/h nestas auto-estradas.

Chegado a Munique, encontrei-me com o amigo e antigo colega de faculdade - Pedro Caeiro a.k.a. PEC. Bom rever os amigos. Amigos e Família.
München - Hofbräuhaus - PEC e Seixas
Com o Mestre PEC e Seixas em Munique.

Música: Milton Banana Trio - Linha de Passe (Brasil)
Filme: Tsotsi (África do Sul)
Livro: Big Sur - Jack Kerouac (E.U.A.)

Um Abraço