ACTIVISTAS - Cimeira da guerra.
História Ficcional
João Carlos Aguiar - 30 de Junho de 2014 - Lisboa, Portugal
Alguns Direitos Reservados. CC by-nc-nd.
Parte 6 de 6
Barra do Tribunal
Enquanto decorria a assembleia, um grupo de bombeiros sapadores expressamente convocados ao comando da polícia, com simbolismo, desencarcerava-nos dos metais e plásticos que nos agrilhoavam várias horas atrás, desde as nove da manhã. Da sede do COMETLIS fomos levados para o Tribunal do Monsanto, em Lisboa, ironicamente um dos principais lugares de paz na cidade. O relógio da carrinha da polícia, que conseguira vislumbrar marcava as quatro da tarde. Antes de sermos presentes os nove a julgamento, ficámos presos numa sala onde nunca pudemos contactar sequer com os nossos advogados. Figueira, um profissional das leis, inúmeras vezes associado às causas activistas, e que já participara em manifestações pela paz, foi o primeiro a chegar ao tribunal do Monsanto, assim que ouviu nas notícias da televisão portuguesa, que os activistas foram levados para lá.
Ainda hoje, cinco anos depois, espero o julgamento daqueles polícias que nem sequer uma chapa de identificação carregavam na sua farda à Robotcop. Gostaria de saber o nome deles, para pagarem a indemnização aos que ficaram com os braços partidos. Com certeza, o caso prescreveu e agora abolorece perdido no tempo dos arquivos da justiça lusitana.
História Ficcional
João Carlos Aguiar - 30 de Junho de 2014 - Lisboa, Portugal
Alguns Direitos Reservados. CC by-nc-nd.
Parte 6 de 6
Barra do Tribunal
Enquanto decorria a assembleia, um grupo de bombeiros sapadores expressamente convocados ao comando da polícia, com simbolismo, desencarcerava-nos dos metais e plásticos que nos agrilhoavam várias horas atrás, desde as nove da manhã. Da sede do COMETLIS fomos levados para o Tribunal do Monsanto, em Lisboa, ironicamente um dos principais lugares de paz na cidade. O relógio da carrinha da polícia, que conseguira vislumbrar marcava as quatro da tarde. Antes de sermos presentes os nove a julgamento, ficámos presos numa sala onde nunca pudemos contactar sequer com os nossos advogados. Figueira, um profissional das leis, inúmeras vezes associado às causas activistas, e que já participara em manifestações pela paz, foi o primeiro a chegar ao tribunal do Monsanto, assim que ouviu nas notícias da televisão portuguesa, que os activistas foram levados para lá.
Os seguranças do tribunal e a
própria polícia impediam-no de contactar com os detidos. Impotente,
aguardou a chegada de outros três advogados que conseguiu arrancar
de casa, naquele sábado de Outono. Os quatro, pressionaram mais,
alegando a violação de leis que asseguram os direitos básicos dos
detidos. E um deles era claro, o direito a falar com um advogado. Que
insensibilidade reinava às portas da instituição máxima da
justiça neste país.
No vagar das horas, foram
chegando cada vez mais activistas ao Monsanto. A assembleia geral no
quartel deliberou fazer-se uma manifestação de apoio em frente à
instituição onde estavam deitados os restantes de nós. O sol
pôs-se mais cedo do que o habitual na tarde de confrontos. Pelo
menos para mim. Monsanto à noite, iluminado pela parca luz do quarto
crescente, apenas suficiente para iluminar um pouco daquele lugar tão
estranho, improvável e esconso, onde supostamente se faria justiça.
Eram já largas dezenas, do lado de lá da estrada em frente ao
tribunal. Os autocarros ainda circulavam àquela hora da noite,
iluminando as estradas escuras. O relógio marcava as dez horas da
noite, exactamente doze depois de termos perpetrado a acção. E lá
de fora só se ouvia um grito conjunto e de inequívoco apoio:
“ACTIVISTAS
PRESOS. LIBERDADE JÁ!”
Primeiro saíram os quatro
advogados, liderados pelo Figueira. Já era quase meia-noite, pelas
23H45. De seguida, e sempre a conta-gotas, aconteceu, a saída dos
activistas, enfim em liberdade, ao fim de mais de doze horas de
detenção ilegal. O juiz quis registar o nome, morada, dados
pessoais, fiscais e bancários dos detidos, e imprimiu-lhes um
cadastro, que carregarão o resto das suas vidas, por terem lutado
pacificamente pela paz no mundo, num país que reconhece desde 1974,
no Decreto-Lei nº 406/74 de 29 de Agosto, o livre exercício do
direito de reunião em lugares públicos, independentemente de
qualquer autorização estatal. Não recorremos a qualquer violência,
não agredimos ninguém, nem tão pouco perturbámos a ordem pública
naquele cruzamento, que já estava bloqueado à circulação pela
organização da cimeira. Foi sem recurso a qualquer forma de
violência, e apenas pela paz, que lutámos e por que nos prenderam.
Rockman of Zymurgy "Game Over" - CC BY-NC-ND 2.0 |
Ainda hoje, cinco anos depois, espero o julgamento daqueles polícias que nem sequer uma chapa de identificação carregavam na sua farda à Robotcop. Gostaria de saber o nome deles, para pagarem a indemnização aos que ficaram com os braços partidos. Com certeza, o caso prescreveu e agora abolorece perdido no tempo dos arquivos da justiça lusitana.
A fita de cena forense foi algo
que guardei. Essa tenho-a no meu quarto, e quantas vezes olho para a
parede à noite antes de me deitar, e digo para comigo: “NATO
GAME OVER”.
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"ACTIVISTAS - Cimeira da guerra."
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João Carlos Aguiar - 30 de Junho de 2014 - Lisboa, Portugal
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