segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Registo #2 - Fronteira Marrocos-Mauritânia

Noadibou, Mauritânia

Volto a registar momentos da viagem neste papel poucas horas depois de ter entrado em solo mauritaniano. Calmo, isto parece calmo, face às ameaças de terrorismo no rally Lisboa-Dakar de que tanto se ouvia falar que iam acontecer na Mauritânia. Já vi umas 30 roulotes e uns 15 carros franceses no caminho desde Marrocos até aqui. Muita gente decide vir passear até aqui.

Parece calmo e não muito diferente de Marrocos. Lembro-me agora deste país com muita saudade... Estive em Tânger onde conheci um sábio de 40 anos na rua, em Chefchaouen onde desfrutei de boas conversas com o Yassine, em Fez onde conheci duas polacas que viajam sozinhas há 7 meses, em Rabat onde me revi no espírito hospitaleiro e viajante do Hassan (fogo mano, obrigado!!! senti-me mesmo em casa!). Segui para Marrakesh, onde aprendi muito com a lógica do Zakaria, passei por Agadir onde me desconfortei com a ganância que o turismo provoca nos locais, atraquei em Layoune por uns dias, onde no Hotel Jodesa (bom e barato... recomenda-se!) apanhei boleia para a Mauritânia com dois franceses que costumam descer até à África Ocidental para vender carros!


Josino com Jelaba Almighty Hassan
Vestido com o traje típico marroquino - Jelaba. Rabat - Hassan.
Marrakesh - Familia de acolhimento
Marrakesh - Zakaria e sua família.

Marrocos é muito bonito. Fez é de facto lindo. Chefcahouen encantador. Marrakesh desapontou-me com as fachadas côr de barro mas recém-construídas, apenas para "inglês ver". Achei a Praça Djema El-Fna, centro da cidade, uma outra farsa para encher os olhos, com shows de boxe onde as luvas fazem festinhas nas cabeças dos lutadores, onde homens se vestem de mulheres e bailam a Dança do Ventre, aproveitando o fato de as mulheres não poderem dançar em público de acordo com o Corão, para fazer uns trocos. Mas enfim, tem o seu encanto, pois é afinal uma cidade no meio do deserto, que começou por ser um oásis.

Fez - Bab Bubjeloud Fez - Curtumes
Fez - Portão para a Medina. Curtumes onde são feitos tapetes.

De Layoune parti rumo de novo ao deserto. Areia, areia e mais areia... e uma estrada rudimentar, apenas com duas faixas e meio esburacada! A paisagem é árida, amarela e desértica, com aparições aleatórias e frequentes de camelos no meio da estrada. A Senhora do Deserto, Fatma, da qual ontem me falaram (Djeredjef Júnior!) deu-me a mão e a temperatura esteve fresca na viagem pelo deserto. A travessia da fronteira com a Mauritânia, apesar de um pouco atribulada e assustadora foi bem sucedida!

Entre o sul de Marrocos e a fronteira norte da Mauritânia existem cerca 5 km de "Terra sem Dono". O que isto quer dizer é que este pedaço de deserto não pertence a nenhum dos dois países e que, para dificultar o cruzamento da fronteira, e haver mais controlo na imigração existem várias minas terrestres enterradas na areia! Um pouco arriscado... Os especialistas a cruzar este pedaço de terra são os Camionistas. Então o segredo é seguir milimetricamente a trilha na areia dos camiões. Contaram-me os dois franceses que me deram boleia, que há cerca de um ano um casal de espanhóis morreu nesta travessia, com a explosão de uma mina. O que ouvi dizer é que eles usaram um GPS e tentaram seguir em linha recta da alfândega de Marrocos para a da Mauritânia.

Fomos seguindo o caminho dos camiões, até que o nosso carro atascou num monte de areia. Saímos do carro e tentámos resolver o problema, e de repente aparecem 3 carros Mercedes dos anos 90 (na Mauritânia só se vê este carro!!! E o mais engraçado é que não há um único stand da Mercedes no país... é bizarro! Vários europeus foram lá vender os carros. ;) ). Dos 3 Mercedes saíram uns 10 adolescentes com má cara, que por largos momentos me fizeram pensar que íamos ser roubados na "Terra sem Dono" e que eles seriam os donos dela! Correu tudo bem. Eles vieram só fazer um dinheiro resolvendo o nosso problema e até já tinham tábuas de madeira para tirar o carro da areia mais facilmente. Passámos a fronteira e deram-nos apenas 4 dias para estar no país. Não nos devem querer muito tempo por aqui, pensei.

Tem cuidado com esta zona na fronteira quando cá vieres. Espera por um camião e cola-te a ele pelo caminho fora! Os franceses aventuraram-se sozinhos e não seguiram bem a trilha dos camiões e à custa disso passámos uma tensãozita na fronteira... "Etai Chaud!!!", disse o francês! ahahah! Mas encontrámos muitos turistas no caminho. A pista alcatroada possibilita boas condições para viajar até ao sul de Marrocos e porque não? É tão perto!

De boleia no Saaracruzando o saara
Cruzando o Deserto do Saara - Sul de Marrocos

Toma la lagosta!
Lagostada em Noadibou, Mauritânia, com os 2 frances que deram boleia.

Viajar tem sido muito bom. Aprende-se tanto, conhecem-se muitas pessoas e conhecemo-nos também a nós mesmos. Estou ansioso por chegar ao Senegal! Um casal francês que conheci em Layoune, deu-me ótimas premonições dessa terra. Amanhã rumo a Noakshott, cidade capital e depois então para o Senegal!

Um grande abraço,
João Aguiar


Música: SAM (gnawa), Fnaire - Az Lkhil Mrabetha (rap marroquino), Gnawa Diffusion - Douga Douga (gnawa fusion)
Leitura: Lonely Planet Marrocos, Lonely Planet West Africa